sexta-feira, 23 de abril de 2010

MARIA DAS DORES

A Mateus da Silva

Sinto uma dor que não é minha
E depressa penso em bilhetes
Falsetes
Manobras para enganar o futuro.

Toda dor é antes de tudo
Incompleta
Absurda
Forjada em medo na siderúrgica.
Toda dor é sentida
nos dentes
e nas unhas.
Não há outro lugar em que doa
Senão no sono
que impacientemente me soa
Feito a donzela do conto.

Sinto uma dor
Que não devia
Curtumes fechados pela sanidade pública
Vendiam tão fácil meu couro
enquanto os sociólogos
vendiam suas táticas de guerra.
Torturadores de favela
Traficantes de sonhos
Meninas grávidas aos treze...
As dores deviam ter nome?

Dormir é mais morrer
Quando se deita na fria escadaria
Ou quando na penitenciaria
Alguém não gosta da comida
Como gostaria?
E as vísceras coçam
Como coçam os dedos naquela mulher
Maria das Dores
Pele de boi
Noite de amores
Embriagues a favor
Maconha a dar com o pau
Também é dor...

E sem mais demora
Ainda não sei
Se cá dentro
Ou lá fora
A dor que sinto é melhora
é antípoda da aurora
Sinistra patente
Pra elevar a gente
a condição da última hora.

ÚLTIMO ACORDE

Se eu morrer
Não me esqueça
Que a morte envelheça
Esperando por mim.
Se tudo é partida
Levo comigo a ferida
Dos desencantos que vivi.

Nem o tempo
Ou o acaso
Pode trazer o abraço
Das saudades que senti.
Se for triste a despedida
Lembre logo a mais bonita
Das revelações que te fiz.

Se eu morrer
Não me esqueça
Tua lembrança é a beleza
Que procuro no meu fim.
E se sorrires com paixão
No último acorde da canção
Serei eterno junto a ti.
(canção com Lenine Rodrigues)

LARANJAIS

Quando dentro dos meus olhos puderes ver
Laranjais famintos no campo do esquecimento
Espera a cada dia de um nefasto tormento
Como a erupção de um amor tardio,
E só então verás quão tamanha é a desolação dos poetas que preferem as rosas.

DIA MUNDIAL DO LIVRO



Fortaleza comemora Dia do Livro com atividades no Passeio Público

Na ocasião, será lançado o Programa Ler é Ter Direitos, política da Prefeitura para o livro e a leitura.
No mês em que festeja seu aniversário, Fortaleza comemora também com uma programação especial o Dia Mundial do Livro e do Direito Autoral, celebrado em 23 de abril. As atividades serão realizadas no Passeio Público, patrimônio histórico e cultural da Cidade, tombado e mantido pelo Município. A programação começa às 8h30 e vai até o final da tarde, incluindo contação de histórias, oficinas, lançamento de concurso literário, espetáculo teatral, sarau poético e show musical.

Antes da programação no Passeio Público, a partir de 6h30, em vários locais da cidade, será realizada uma performance de leitura para chamar a atenção das pessoas para o Dia do Livro e a importância da leitura. Trinta poltronas e pufs serão espalhados em grandes avenidas de Fortaleza e, em cada uma delas, um ator estará fazendo a performance, despertando o interesse pela leitura das pessoas que transitam pelas ruas de carro, moto, bicicleta, ônibus ou a pé.

“O ator vai encenar as emoções que a leitura passa para ele à medida em que ele lê o livro. A ideia é que a pessoa que veja a performance construa um pensamento sobre a leitura e sobre o ato de ler como uma atividade instigante e prazerosa”, antecipa o coordenador de políticas de literatura, livro e leitura da Secretaria de Cultura de Fortaleza (Secultfor), Urik Paiva.

O objetivo de toda a programação do Dia do Livro é levar à população a mensagem de que ler é uma atividade que conduz à imaginação e ao pensamento crítico, além de trazer informação e crescimento social e reafirmar valores de memória e identidade cultural.

Esse, aliás, é um dos princípios da política para a literatura, o livro e a leitura da Prefeitura Municipal de Fortaleza que será oficialmente lançada durante a programação do dia 23. Com o nome de Programa Ler é Ter Direitos, a iniciativa representa uma pactuação entre a Prefeitura, através da Secretaria de Cultura de Fortaleza (Secultfor) e da Secretaria de Direitos Humanos (SDH), e diversos parceiros nas áreas pública e privada, buscando mostrar à população que Fortaleza pode se tornar uma cidade de leitores.

Soma-se a isso o lançamento da primeira edição da Feira do Livro Infantil de Fortaleza, criada e organizada pela Editora Casa do Conto e que recebe o apoio de diversas empresas e instituições. A Feira do Livro Infantil de Fortaleza é um evento de cunho cultural com o objetivo de promover a literatura infanto-juvenil, com a participação de editoras de todo país ou seus representantes. Será realizada na Praça do Ferreira, no Centro de Fortaleza, no período de 15 a 18 de setembro de 2010. Haverá sessões de autógrafos, palestras e debates com autores e ilustradores, saraus literários e contação de histórias para crianças e toda a família.

O Dia Mundial do Livro e do Direito Autoral foi criado pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco), em 1995. Desde então, ele vem sendo celebrado em todo o mundo no dia da morte de William Shakespeare (1564-1616), dramaturgo inglês e autor de obras como Hamlet e Rei Lear; e de Miguel de Cervantes (1547-1616), conhecido pelo romance Dom Quixote.

Programação - Dia 23

Performance de Leitura
6h30 às 8h – Atores encenam leitura em 30 pontos da Cidade
Locais: Av. Desembargador Moreira (Praça Portugal), Av. Antônio Sales (próximo à Praça da Imprensa), Av. da Universidade (próximo à Biblioteca Pública Municipal Dolor Barreira), Av. Treze de Maio, Av. Abolição, Av. Pontes Vieira.

Passeio Público
8h30 - Contação de Histórias, com Júlia Barros: Contos da Rua Brocá
9h - Oficina de Criação Literária, com o escritor Kelsen Bravos
9h - Oficina de Desenho, com o ilustrador e escritor Rafael Limaverde
9h - Oficina de Fanzine, com Jéssica Gabrielle
9h - Intervenções de Arte Urbana, com o grupo Liquidificador sem Tampa pelo Passeio Público; e distribuição de fanzines
10h - Lançamento do Concurso Literário Peter Rohl, da Câmara Cearense do Livro
14h - Oficina de Criação Literária, com Kelsen Bravos
14h - Oficina de Desenho, com Rafael Limaverde
14h - Oficina de Fanzine, com Jéssica Gabrielle
14h - Oficina Construindo Painéis Literários, com Sílvia Montenegro
14h - Intervenções de Arte Urbana, com o grupo Liquidificador sem tampa, pelo Passeio Público; e distribuição de fanzines
15h - Peça Teatral Cia. Prisma de Artes − Direção Raimundo Moreira
16h - Lançamento da Feira do Livro Infantil de Fortaleza e do Programa Ler é Ter Direitos
16h30 - Sarau poético com Grupo Remix
18h - Show de Paula Tesser e Valdo Aderaldo

:: SERVIÇO
Dia Mundial do Livro e do Direito Autoral
– Dia 23, a partir das 8h30, no Passeio Público (Rua Dr. João Moreira, s/n – Centro, ao lado da Santa Casa de Misericórdia).

quarta-feira, 14 de abril de 2010

NA BIENAL DO LIVRO...

DIA 17/04 - SÁBADO
Lançamento: 2ª Coleção PAIC, Prosa e Poesia (SEDUC)
Café Literário O Galo de Ouro (Sala A Inferior) | 19h - 22h | Lançamento & Bate-Papo/SEDUC

Contando com a presença dos autores e ilustradores desta 2ª Coleção.
Entre os livros, está "O SÁBIO ARATU DE SABIAGUABA", em parceria com o camarada Carlus Campos.

*Oswald Barroso: O QUE ME CONTARAM SOBRE O TITANZINHO

Contaram-me que os moradores do Titanzinho darão graças a Deus quando o estaleiro der um fim à sua praia porque, sendo pobres e analfabetos, pouco estão ligando para a paisagem, embora ali o mar tenha peixes fartos e as melhores ondas para surfar de todo o Brasil. Pouco se importam também, disseram-me, que um paredão se instale entre eles e a praia, porque se pode passar muito bem sem jogar bola ou mesmo sem correr pela areia, tomar uma cerveja, olhar a lua, o pôr do sol, tomar uma brisa, fazer qualquer coisa, desde que se tenha grana no bolso, emprego seguro, como promete um bom estaleiro. Contaram-me, inclusive, que eles concordam, até mesmo, em dissolver a comunidade se for necessário, empestada de funkeiros, ladrões e traficantes. Um estaleiro os livraria dos bandidos e vagabundos.
Em outra ocasião, deram-me o exemplo de um estaleiro que, chegando numa praia parecida com aquela, gerou emprego e renda, transformando de tal modo a vida do povo que muitos de seus habitantes, em pouco tempo, já possuíam automóvel. Pareciam arautos de Deus, reunidos em uma assembléia do Olimpo, esses que falavam envergando paletós. Munidos de números e palavras técnicas, despejavam argumentos, demonstravam absoluta convicção no que diziam, embora alguns deles fossem ainda muito jovens. Como se tratava de grave questão e houvesse resistência, pois afinal não se condena todo dia uma praia com sua cultura ao desaparecimento, a maioria lavou as mãos e passou a responsabilidade aos técnicos. Caberia à ciência, essa nova religião, a palavra final. Os órgãos responsáveis pelo meio-ambiente dariam a palavra final. Assim estaria garantida a assepsia e a neutralidade da decisão, embora não estivessem esquecidas de todo as manchetes nos jornais dando conta de casos graves de corrupção comprometendo decisões e laudos técnicos dos citados órgãos.
No sábado fui visitar o Titanzinho. Ver para crer, ouvir com meus próprios ouvidos. Levei uma caderneta e uma máquina fotográfica. Voltei a ser repórter. Fui direto ao assunto. Anotei primeiro o que estava escrito em um muro de frente à praia. Tinha tudo a ver: “Contaram-me que os peixes não se importam de serem pescados, pois tem o sangue frio e não sentem dor. Mas não foi um peixe que me contou isso.” Havia um recital de poesia promovido pelo Grupo Chocalho com a participação de rappers locais. Alguns contaram em versos a história das lutas dos moradores para não serem despejados do Bairro Serviluz. Outro falou a propósito da ameaça da instalação do estaleiro na praia do Titanzinho: “Querem arrancar um pedaço do meu coração!”
As pessoas comentavam desconfiadas as promessas de emprego e renda advindas do estaleiro. Anotei uma fala: “- Quando construíram este porto aqui, com todas essas empresas, também prometeram emprego para o povo do bairro.” A propósito, o estaleiro citado acima, gerador de tantas maravilhas, fica em Pernambuco, em zona rural bem distante do Recife, local apropriado, portanto, longe dos centros urbanos, lugar bem diferente de um “santuário” da cultura praieira, como o Titanzinho.
Lourdes Macena, presidente da Comissão Nacional do Folclore, contou-me que Tita Tavares, depois de conquistar algumas medalhas internacionais no surf, recebeu em sua casa a visita de uma jornalista, que comentou: - Tita, agora você poderá sair do Titanzinho e ganhar o mundo! - Como, se todo o meu mundo está aqui?! Ela respondeu.
O povo do Serviluz não pode abrir mão de seu mundo. O Titanzinho é patrimônio natural e cultural da cidade. É chão sagrado, é mar sagrado, onda de Tita Tavares e de outros Titãs. É tesouro vivo de Fortaleza. A lógica da economia não pode justificar sua destruição.
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* Oswald Barroso é jornalista, professor, poeta e teatrólogo.