terça-feira, 31 de agosto de 2010

"HISTÓRIA DA RESSUREIÇÃO DO PAPAGAIO" DE EDUARDO GALEANO



Livro para o público infantil traz recriação de fábula nordestina a respeito da aparição do papagaio. História foi ouvida pelo escritor uruguaio Eduardo Galeano no Ceará e traduzida pelo poeta Ferreira Gullar

Eduardo Galeano é daqueles escritores "vitimados" pelo sucesso de uma obra. O ensaio "As veias abertas da América Latina" (1971), avaliação crítica do histórico de violências cometidas contra os povos da região, deu a ele a identidade com que costuma ser lembrado. O livro o investiu de autoridade, de forma que o autor é uma voz a que se recorre com frequência para opinar a respeito dos rumos do continente e para comentar acontecimentos impactantes. Claro, ele também abriu espaço para que obras posteriores e anteriores de Galeano fossem lidas e publicadas - nas áreas de jornalismo, ensaísmo histórico e, ainda, literatura.

Deparar com um livro como "História da ressurreição do papagaio" funciona como um lembrete: o trabalho de Eduardo Galeano merece ser lido com mais atenção. Não faltarão aqueles que serão tomados de assombro ao encontrar uma inusitada versão do homem que expôs as veias abertas de nossa terra. O Galeano desse livro não apenas escreve em versos como não traz vestígios de sua produção engajada. A qualidade da escrita, contudo, se mantém constante (o que no caso do autor é algo positivo).

"História da ressurreição do papagaio" é na verdade um poema transformado em livro infantil. O que determina essa interpretação do texto não é tanto o estilo de Galeano, mas a natureza da história que ele conta: não há dúvidas, trata-se de uma fábula. Para coroar a sucessão de assombros que o livro suscita (sem encerrá-los, necessário dizer), descobre-se na contracapa tratar-se uma história colhida pelo escritor no Ceará. Ela conta como o papagaio tornou-se a ave com as características que conhecemos.

Cores e histórias

Eduardo Galeano saiu de seu país em meados dos anos 1970, fugindo da repressão da ditadura militar instalada no Uruguai. Daí, tornou-se um andarilho. O Brasil foi um destino recorrente. Foi numa feira no interior cearense que ele conheceu a lenda por trás das cores do papagaio. História que, como é comum no repertório da tradição oral, deve ter sido contada em inúmeras versões, sempre encontrando um narrador mais criativo, que tenha se aventurado a dar sua própria forma a um episódio criado não se sabe quando, nem por quem. Galeano dá sua contribuição, repetindo em versos uma história que, certamente, encontrará quem a repasse.

Reencontro

A edição trabalha a obra no sentido de que a literatura infantil não pode se permitir ser uma literatura menor, descuidada. A tradução dos versos, por exemplo, ficou a cargo de Ferreira Gullar. Nas entrelinhas, se vê o reencontro de Gullar como o campo da poesia popular nordestina. O uruguaio diz ter tirado sua fábula de um folheto de cordel, mesma linguagem poética de que o maranhense se valeu no começo dos anos 1960, no auge de sua militância comunista, para chegar de maneira mais fácil e eficiente ao "povo". Para a mesma editora, Ferreira Gullar já havia trabalhado em outro livro-poema infantil. Foi ele quem verteu "O Livro das perguntas", experimento poético vanguardista do chileno Pablo Neruda.

As ilustrações também remetem à arte tradicional na região, de uma maneira nada óbvia. Em vez de desenhos ou pinturas, são fotografias que traduzem em imagens as cenas do poema. Fotografias das esculturas em madeiras do espanhol Antonio Santos, peças de cortes minimalistas, pintadas a mão, que bem poderiam passar por trabalhos ornamentais, mas que são ressignificadas pelo enquadramento da lente.

Em "História da ressurreição do papagaio", o pássaro ainda não é o falastrão protagonista de inúmeras piadas. É, curiosamente, um personagem mudo, ausente. Curioso, ele morre ao cair numa panela de sopa fumegante. Segue-se uma onda de tristeza, que abate igualmente seres vivos e inanimados; pessoas, mas também árvores e o vento. O tom é de melancolia.

POESIA
"História da ressurreição do papagaio"
Eduardo Galeano
R$ 42,00
24 PÁGINAS
2010
COSAC NAIFY
TRADUÇÃO: Ferreira Gullar

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

INAUGURAÇÃO DA SEDE DA CIA. PÃ DE TEATRO



Nesta terça (24) a partir das 19h a Pã estará inaugurando sua sede no Benfica. Venha celebrar conosco essa conquista do coletivo teatral de Fortaleza. Conheça um pouco mais a história da Companhia Pã:

A Companhia Pã de Teatro Pesquisa Produção Artística e Cultural, fundada em 15 de Abril de 1996 pelo Diretor, Ator, Iluminador e Dramaturgo Karlo Kardozo, com o objetivo de desenvolver técnicas de pesquisa e produção cênica de contação de história, visando o desenvolvimento de uma poética pluricultural, centrada na performance do ator.

De 1997 a 2000, integrou-se a Associação de Teatro Radicais Livres, fusão de três grupos, a Companhia Pã, o Grupo de Pesquisa de Ricardo Guilherme e a Companhia Pessoa de Teatro de Ghil Brandão. Funda junto a Associação o Teatro Radical (Praia de Iracema - Fortaleza - CE) onde desenvolve diversos projetos (oficinas, palestras, exposições, seminários, debates), mantém o Centro de Pesquisa em Teatro (biblioteca, núcleo de referência midiática e banco de textos dramatúrgicos) e um Núcleo de Contação de História.

De 2001 a 2006 o Teatro Radical cerra suas portas, mas a Associação continua seus trabalhos participando do Festival Nordestino de Teatro (Guaramiranga), Festival Internacional de São Jose do Rio Preto (SP), Mostra Cariri, Projeto Palco Giratório – SESC, Ato Compacto – BNB, Mostra Radical, entre outros.

A partir de 2007, dissolvida a Associação, a Companhia inicia uma nova fase conduzindo as experimentações estéticas e incursões investigativas pelo campo da antropologia, da filosofia e da política, com a qual a Pã vem consolidando uma poética transdisciplinar conectada com termos e códigos propostos pela contemporaneidade.

2007/2008 inicia o projeto Fragmentos do Corpo, uma reflexão sobre o erotismo e suas múltiplas faces. Fragmentos é uma experimentação cênica e dramatúrgica sobre caldeamento das paixões humanas, transcriadas pela fragmentação e sobreposição de linguagens e meios.

2009 inicia o projeto Cidade Noiada, uma investigação estética, ética e política acerca do fenômeno espacial urbano, concreto e virtual, que se propõe a contribuir para a reflexão sobre o lugar do teatro na contemporaneidade. Para tanto, busca-se construir uma dramaturgia cênica e escrita de modo hipertextual que sirva de interface para o diálogo com os meios interativos, compreendendo a cidade em sua estrutura de asfalto e cimento como um ambiente hipertextual e socialmente indissociável de sua existência virtual e on-line.

Hoje a Companhia Pã, sediada no Benfica / Fortaleza-CE, desenvolve os seguintes projetos:

Pã Revista de Arte e Cultura – revista eletrônica colaborativa de cultura livre. refletindo, divulgando, debatendo, conectando, tecendo a rede do fazer artístico e cultural da cidade, linkado sempre com o universal.
TV Pã – TV online para debates sobre as ações do Projeto Cidade Noiada, entrevistas sobre teatro, intervenções urbana, etc.
Biblioteca Pã – com ênfase em arte, cultura, política, filosofia, antropologia e história. Aberta a consulta pública.
Projeto Cidade Noiada – atualmente desenvolvendo as ações “Janelas na Cidade” e “Territórios Errantes” uma investigação estética, ética e política acerca do fenômeno espacial urbano, que busca construir uma interface para o diálogo com a cidade em sua estrutura de asfalto e cimento como um ambiente hipertextual e socialmente indissociável de sua existência virtual e on-line.
Projeto Farol da Memória - um projeto de construção coletiva da memória do bairro Serviluz – Fortaleza-CE, através do teatro, literatura, artes visuais e mídias eletrônicas, Desenvolvendo um coletivo inter-geracional protagonizado por jovens e idosos os quais atuarão como “Agentes da Memória”, entrelaçando o tempo e as diversas experiências individuais e coletivas.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

JARDINEIRO



"Por favor" tem cheiro de capim
quando tudo se pode plantar
e aquele algo mais que se diz:
"Quer ser feliz?"
Pra bondade poder brotar.

Esta plantinha que tem dentro mim
é a mesma que eu vi em teu jardim.
Tem amarelas flores vemelhas,
tem espinhos que não furam o jasmim
mas folhinhas da amada gentileza.

Não vou te chamar de azedo cravo
pois Obrigado é o que sempre escuto de ti.
"De nada" não cobra nada
É bem fácil repetir.

Volte sempre.
Sua presença é benvinda no terreiro.
Ame sempre.
O amor é um grande jardineiro.