quinta-feira, 23 de julho de 2009

CARVOEIRO LILÁS

A mão do cantador
quando toca na viola
lembra da escola
que um dia teve que deixar.
Pra ganhar o mundo a fazer moda
e o destino ter que recantar.

Um casamento que nunca se acaba
é a voz e mão do repentísta.
Orgulhosa é a vida que trabalha
por dias melhores de justiça.

Mãos de carvão
feitas de um canto brejeiro.
O fim da brasa é o recomeço
que o fogo mouro refaz.
Carvão amarelo, carvão preto
Carvão azul, carvão lilás.

canção com Ebson Paixão (Dedé)

OLGA

Para cada verso
pensei um verso novo
que não rimasse com o povo
mas com o que o povo rima.
Um verso que corre feito rio,
feito um samba na avenida
um verso para margarida
para beija-flor,
pra Anita,
pra Olga,
pra espantar a dor.

Um verso diferente
que cresce como gente
na barriga da mãe,
depois anda e desanda
pelos amores repartidos
procurando rimas novas
pra sarar mal resolvidas,
caducas, cansadas prosas
de mil corações feridos.

canção com Ebson Paixão (Dedé).

OS CAÇADORES DE CARANGUEJOS

Profundos estudos e análises da fauna e flora do mangue do rio cocó. Aguarde Greenpeace!

segunda-feira, 6 de julho de 2009

O ROMANCE DA LUA COM O MAR

De casos de amor eu já vi tudo
Nas trilhas da vida tão dormente
Amor que cega, sufoca ou mata gente
Que aleija o sujeito ou deixa mudo
Desnorteando “o cabra” carrancudo
O mais bonito agora vou falar
Que lá pras bandas do meu Ceará
Nunca vi paixão tão bela e tão profunda
Pelo sertão, o andarilho é testemunha
Do romance da Lua com o Mar.

Nem os mais finos cordéis vão descrever
Os detalhes desta saga nordestina
Maior que o amor de Mateus por Catirina
Foi a sedução da Lua em seu poder
Que fez toda terra estremecer
Fez o canto da araruna ecoar
O Mar de meu Deus se apaixoná
Capitão Lampião roer “as unha”
Pelo sertão, o andarilho é testemunha
Do romance da Lua com o Mar.

E fui eu mesmo, o mensageiro
Deste romance sem igual
Levei bilhete, carta de amor, cartão-postal
Prosas barrocas de um cancioneiro
Nesse sentimento sem tamanho e sem freio
Diluído nas palavras tristes do luar
Quando toca a terra de iemanjá
Gira o mundo e faz bagunça
Pelo sertão, o andarilho é testemunha
Do romance da Lua com o Mar.

Pode até um gaiato se meter
E o meu verso vir questionar:
"No sertão não há praia, não há mar
Como é que pode a lua se entreter
Com a paixão que é dos homens de morrer
E das mulheres de casar?”
Que estória besta estou a contar
Que não havia carta nenhuma
Pelo sertão, o andarilho é testemunha
Do romance da Lua com o Mar.

Faço versos como quem reza
Amo como quem escreve poesia
Conto a vida nebulosa em sua maresia
Crio paixões sem precisar ter pressa
Apaixono a quem interessa
Seja a Lua, menina da noite a brilhar
Com seu reflexo nu a embelezar
O Mar bravio e sua corcunda
Pelo sertão, o andarilho é testemunha
Do romance da Lua com o Mar.