terça-feira, 22 de junho de 2010

A MULHER QUE VIRAVA ÁGUA.



"Sempre achei que o céu fosse de licor. Um licor azul de tão gostoso. E que se eu estendesse a mão poderia esparramá-lo por todo o ar. Tomar banho de licor azul. E fecundaria dentro de mim um grande pé de eucalipto. O maior que já se viu. Bonito, frondoso e muito, muito perfumado. Seria meu filho. Florescido do meu útero de licor azul. Não o levaria a escola. Lá eles não gostam de eucaliptos. Não gostam de jacarandás. De abacateiros nem de cajueiros. Escolas gostam de mortos. E eu não vou parir nada morto. Tudo vivo, vivinho. Meus filhos não são de escola... Vou levá-los sempre que puder ao jardim das margaridas para que possam compartilhar suas sombras e sua caridade. Os jardins são reinados sem príncipe, sem rei, sem mestre, sem dono ou dona. Todos nos jardins são iguais. Rosas são lírios. Lírios são cravos. E cravos são begônias. Todo encantamento de uma beleza verdadeiramente honesta."

Trecho do conto "A MULHER QUE VIRAVA ÁGUA" de 2002.
Em outros momentos, vou publicar mais trechos.

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