terça-feira, 9 de agosto de 2016

CORAÇÕES DE PESCADORES


Meu ancoradouro está triste.
Nele não repousam mais navios
As jangadas não mais se recolhem,
Nem as aves do céu escarlate
Teimam seus cortejos
Nos mastros de minha vanguarda.

Os ventos salgados
Sopram nos recifes
Uma lamúria indecifrável,
Onde solitárias mulheres
Vagam pela praia
A lamentar seu desterro
E sua espera.

Tantas redes guardadas
Tarrafas encaixotadas
Reclamam por seus senhores.
Evocam cantigas de saudade
Que silenciam
A marcha inevitável das marés.

Não há mais peixes no mar
E todos os braços fortes
Forjados em bronze solar
Agora repousam de sua lida
Junto de suas naus intrépidas
Sob o espírito das águas.

Embarcações de filhos amados
Levados feitos missionários,
Em cruzadas de um mesmo sonho.
Alimento de gerações.
Corações de pescadores
Que escutam ao longe
Como que em oração
As serenas vozes de suas mulheres,
A pedir em verso
Que o mar se abra
E as devolvam aos dias da felicidade.

Foto: Galba Nogueira
Local: Enseada do Mucuripe/Fortaleza/CE

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