Corre nas asas da Mariposa, a eletricidade da revolução, do olhar irreverente do artista mambembe, do doido dono de circo e de todos aqueles que se arriscam na caixa preta do teatro. Assim como o cobre é o condutor nobre da fantástica energia elétrica, a poesia se manifesta como a grande mágica que faz tudo funcionar dentro da caixola que é a imaginação humana.
terça-feira, 16 de agosto de 2016
SERIEMAS E CABAÇAS
Carrega negro
O peso que te batem às costas.
Paus e pedras te arrastam às portas do palácio.
Fazem de ti carregador de mundos,
Objeto de muita valia,
Ferramenta viva e obra-prima.
Carrega negro
Estandartes de fogo.
Milícias inteiras te esperam
E multidões te querem rei,
Sacerdote e bufão.
Carrega negro
A honra indomável,
Tua lua e tua aorta inquebrável.
Faz agora tuas piadas
E destrói os calcanhares que forçado tu lavaste.
Carrega negro
Todas as embarcações clandestinas,
Todas as crianças violentadas à proa
E todos os sonhos que sepultaste no mar.
Traz sobre teus ombros a força e a destreza
Que tentaram te furtar.
Enrijece os nervos e canta!
Canta tua arte milenar e teus malabares.
Canta perfeito como perfeito é teu corpo.
Canta e anda negro.
Carrega negro
Tua cana, teu café e teu ouro.
Mistura à farinha os signos mouros,
Desordena as raças
E depõe contra os estetas.
Carrega entre os laranjais tua coragem
Maneja flores e facões
Sobre toda conformidade.
Costura tua barba a esse céu estrelado.
Faz quilombos na avenida central.
Carrega negro
Tua voz aguerrida,
Teu espanto e tua filosofia imortal.
Faz-te camaleão,
Centurião transcendental.
Carrega negro
Teu ferro em brasa
Que queima e forja
A poesia inquieta dos cativeiros vazios.
Carrega negro
Agora somente o que podes levar:
Seriemas e cabaças.
Sem que nada te pese.
Sem que nada te faça cansar.
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